SIMPATIAS AZUIS
Simpatias Azuis

Esse projeto foi motivado pelo encontro de uma sequência de fotografias feitas no deserto do Atacama pelo artista e professor Carlos Murad com um texto de Bachelard sobre a cor azul. As sensações provocadas por essa confluência de sentidos visuais e literários, instigaram a criação de uma fábula assim como uma série de imagens – as pinturinhas. Todo esse composto foi reunido num pequeno livro artesanal.

Fábula Simpatias Azuis

Fazer as imagens respirarem o mesmo ar que eu respiro ou respirar, das imagens, o mesmo ar? Imagens de ar. Uma tarde a falar de simpatias azuis e à noite, ao sair, me deparei com um céu azul cheio de pequenas nuvens brancas. Tive que rir, até que porque em cima deste céu me foi servida uma sopa de tomates.

Fiquei pensando sobre essas sintonias do poético enquanto jantava e olhava aquela porção de céus fatiados pelas mesas do lugar. É uma questão de ver/ouvir com olhos/ouvidos aéreos. Uma atenta dispersão.

Foram os azuis que me chamaram. Imagens visuais e literárias, uma levou à outra. Ler e ver… convite irresistível. Uma união pelo azul. Imaginei categorias azuis.

Vitória cruel do azul é a imagem que exibe o azul de sol a pino e imaculado, tornando todas as fronteiras vivas.

A escuridão visível é o azul marítimo, profundo, revelando a sua inegável afinidade com as nuances do preto. O brilho do ébano é azul.

As azulantes, tudo nelas é lembrança juvenil. Um cheiro de mar, a leveza de paisagens indefinidas e dos sentimentos ainda rascunhados.

O azul escapa pela imensidão. Suas imagens nos acenam com outro cenário, outra forma de se referir a este absoluto que nos ultrapassa. A imensidão não é algo que se possa abraçar, temos que reconhecer nossa fraqueza, e esperar suavemente que ela desperte nosso ser para imaginar, enfim, sem a urgência das imagens.

Mergulhei de cabeça no devaneio aéreo da imensidão azul.

Como algo tão cotidiano me comoveu. Não foi só o céu, foram os azuis no céu. Lembrança antiga na palheta de pintura – azul da Prússia, belíssimo, nascido de um desvio do vermelho. Puro era um azul intenso, noturno. Misturado com branco, ele se abria num céu de primavera límpido. Eu sempre me encantava com a diferença que surgia da mistura, bastava uma pontinha de branco e a cor mudava tanto! Foi isso que as imagens trouxeram de tão longe para me seduzir. Conseguiram!

Azuis (2013): Série de imagens em técnica mista: aquarelas, montagens fotográficas e tratamento digital em diversos formatos (mínimo 15x12 cm, máximo: 30 x 40 cm)