POOR-FISH
O livro Poor Fish Memories (2016) é um aglomerado poético de memórias, sonhos e invenções que nunca se imaginariam juntos e participantes de uma mesma fantasia, mas que depois de amalgamados, se pertencem inexoravelmente. A lembrança que desencadeia todo o processo desse composto criativo se esboça na suposta existência de um instigante objeto: um (des)brinquedo. Sem saber se o que me recordo é sonho, memória ou a lembrança perdida de um devaneio, empenho-me em (re)criar o onírico objeto. Tomada por este rebate, meu impulso é a recuperação de sensações, poetizar as rememorações, explorar as afinidades insuspeitadas que vislumbro nessas lembranças vaporosas.
Fábula Poor Fish Memories
A imagem nebulosa surge bem devagar e vai se colorindo quando a cena se abre luminosa para o quarto inteiro. Foi com grande esforço recordativo que desfiei do esquecimento cada linha a seguir:
A ideia era de um brinquedo simples, feito de coisas que estariam muito bem dentro de qualquer gaveta ou canto da casa:
– uma lata redonda de goiabada, desde que bem lavada.
– cópias em xerox para forrar a lata.
– pedaços de papéis recortados, bem pequenos.
– um acetato muito fino como se fosse, nos dias de hoje, um filme de cozinha. Esse era o artigo mais luxuoso do conjunto.
O mais difícil era o tempo que precisava ser frio e seco, por isso a brincadeira ser feita no inverno.
Os pedacinhos de papel eram cortados com tesoura em formas de vários triângulos. Essas formas – por algum motivo que escapava –funcionavam tão melhor do que qualquer outra, era o que acontecia.
Pouca quantidade de papéis já seria suficiente para a brincadeira. Todos eles eram repousados dentro da lata forrada.
A fina película de acetato, muito bem esticada, tapava tudo. Importante prender bem para que ela não se soltasse quando fosse friccionada com força por um punho fechado durante alguns segundos. Este movimento se repetiria várias vezes.
E o que acontecia? Os bailarinos, quer dizer, os pequenos papéis, dançavam enlouquecidos, sobretudo quando se tamborilava com os dedos na parte debaixo da lata. Nem todos os papéis dançavam, alguns se arremetiam no acetato e outros continuavam caídos no fundo.
Mas não havia importância alguma ficarem por ali porque pareciam uma espécie de cenário para aquela espécie de palco onde só alguns teriam o dom de encantar.
Toda a ação durava alguns minutos, mas a vontade que o bailado não acabasse era tão grande que repetíamos a ação inúmeras vezes até a película rasgar ou afrouxar. Pausa para trocar o acetato, escolher os melhores bailarinos e recomeçar.
Veja as imagens do trabalho e experimente a versão digital “Poor Fish Memories”.